O Estupro e a Cultura Brasileira do Sexo
Infelizmente, escrevo este texto em tom de tristeza. Acabo de ler agora uma notĂcia cuja chamada era a seguinte: Garota presta depoimento Ă polĂcia apĂłs queixa de estupro coletivo no Rio. Quando li a ma
tĂ©ria, fiquei perplexa. Mais perplexa ainda fiquei com os comentĂĄrios postados nas redes sociais acerca desta. Eu fico me questionando se o ser humano pode ser realmente chamado de espĂ©cie racional. Como pode um homem se gabar de ter praticado tĂŁo grotesco ato, postando atĂ© mesmo nas redes sociais vĂdeos da sua prĂłpria brutalidade?
Apesar da evolução tecnolĂłgica, hĂĄ ainda algo muito arcaico em nossa sociedade. Ainda vemos casos em que homens pegam (sim, este Ă© o termo) diversas mulheres e sĂŁo idolatrados, servindo atĂ© de inspiração para alguns jovens (acredite, acontece mesmo). Isso estĂĄ enraizado em tudo: na nossa cultura, nas nossas baladas, nas mĂșsicas mais tocadas do momento, na nossa propaganda turĂstica divulgada mundo afora. A menina vai para uma balada, fica (outro termo tambĂ©m) com diversos rapazes e no outro dia Ă© chamada dos nomes mais pejorativos possĂveis.
Ok, ok. Existe sim uma “certa” liberdade feminina nos dias atuais. A mulher ocupa lugares antes nĂŁo ocupados. Mas Ă© perceptĂvel ainda esse tipo de comportamento em nossa sociedade. Eu jĂĄ imaginava isso e, apĂłs a leitura de alguns comentĂĄrios nas redes sociais, percebi pessoas se esquecendo de criticar os estupradores e julgando a vĂtima, alegando que “se estivesse na igreja isso nĂŁo aconteceria”. EntĂŁo, pelo fato de ela nĂŁo estar na igreja, Ă© merecedora de tal coisa? Quem segue determinada crença estĂĄ definitivamente livre de tal catĂĄstrofe e a mulher ateia, umbandista, ou de qualquer outra manifestação que nĂŁo seja cristĂŁ, estĂĄ fadada ao estupro? E os casos por aĂ de pastores que estupram suas filhas e padres que estupram seus prĂłprios coroinhas? Eles estĂŁo na igreja, nĂŁo? E para os que comentam que ela deveria estar em casa, e o caso de uma senhora de 95 anos (se nĂŁo me engano), estuprada por assaltantes em sua prĂłpria casa? Sim, isso aconteceu aqui, em um distrito da minha cidade. AlguĂ©m pode responder essa?
Como disse Marcos Bagno em seu perfil no Facebook, “Lutar contra a cultura do estupro Ă© lutar contra muito da cultura brasileira”. Ă difĂcil, mas nĂŁo impossĂvel, modificar algo jĂĄ entranhado nas instĂąncias sociais. Converso muito com meus alunos sobre esses fatos e sempre digo que o Brasil sĂł vai mudar em todos os sentidos quando a mentalidade do brasileiro mudar tambĂ©m. Isso vale para tudo, seja na polĂtica, na educação, na mĂșsica, na questĂŁo ambiental. Enquanto o brasileiro continuar agregando valor a coisas que nĂŁo merecem nenhum, as coisas nĂŁo vĂŁo mudar. Enquanto as nossas jovens aceitarem ser tratadas como objetos pela mĂdia em geral, e acharem que ser a “novinha ostentação” Ă© sinĂŽnimo de admiração, nada muda. Ă preciso conscientização. Nossas jovens merecem respeito.
Por Elaine Silva blog Jonata Daniel
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