Por Paulo Monteiro JĂșnior

segunda-feira, 6 de junho de 2016

O Estupro e a Cultura Brasileira do Sexo


Charge> Carlos Laluft
Infelizmente, escrevo este texto em tom de tristeza. Acabo de ler agora uma notĂ­cia cuja chamada era a seguinte: Garota presta depoimento Ă  polĂ­cia apĂłs queixa de estupro coletivo no RioQuando li a ma
téria, fiquei perplexa. Mais perplexa ainda fiquei com os comentårios postados nas redes sociais acerca desta. Eu fico me questionando se o ser humano pode ser realmente chamado de espécie racional. Como pode um homem se gabar de ter praticado tão grotesco ato, postando até mesmo nas redes sociais vídeos da sua própria brutalidade?

Apesar da evolução tecnolĂłgica, hĂĄ ainda algo muito arcaico em nossa sociedade. Ainda vemos casos em que homens pegam (sim, este Ă© o termo) diversas mulheres e sĂŁo idolatrados, servindo atĂ© de inspiração para alguns jovens (acredite, acontece mesmo). Isso estĂĄ enraizado em tudo: na nossa cultura, nas nossas baladas, nas mĂșsicas mais tocadas do momento, na nossa propaganda turĂ­stica divulgada mundo afora. A menina vai para uma baladafica (outro termo tambĂ©m) com diversos rapazes e no outro dia Ă© chamada dos nomes mais pejorativos possĂ­veis.
Ok, ok. Existe sim uma “certa” liberdade feminina nos dias atuais. A mulher ocupa lugares antes nĂŁo ocupados. Mas Ă© perceptĂ­vel ainda esse tipo de comportamento em nossa sociedade. Eu jĂĄ imaginava isso e, apĂłs a leitura de alguns comentĂĄrios nas redes sociais, percebi pessoas se esquecendo de criticar os estupradores e julgando a vĂ­tima, alegando que “se estivesse na igreja isso nĂŁo aconteceria”. EntĂŁo, pelo fato de ela nĂŁo estar na igreja, Ă© merecedora de tal coisa? Quem segue determinada crença estĂĄ definitivamente livre de tal catĂĄstrofe e a mulher ateia, umbandista, ou de qualquer outra manifestação que nĂŁo seja cristĂŁ, estĂĄ fadada ao estupro? E os casos por aĂ­ de pastores que estupram suas filhas e padres que estupram seus prĂłprios coroinhas? Eles estĂŁo na igreja, nĂŁo? E para os que comentam que ela deveria estar em casa, e o caso de uma senhora de 95 anos (se nĂŁo me engano), estuprada por assaltantes em sua prĂłpria casa? Sim, isso aconteceu aqui, em um distrito da minha cidade. AlguĂ©m pode responder essa?
Como disse Marcos Bagno em seu perfil no Facebook, “Lutar contra a cultura do estupro Ă© lutar contra muito da cultura brasileira”.  Ă‰ difĂ­cil, mas nĂŁo impossĂ­vel, modificar algo jĂĄ entranhado nas instĂąncias sociais. Converso muito com meus alunos sobre esses fatos e sempre digo que o Brasil sĂł vai mudar em todos os sentidos quando a mentalidade do brasileiro mudar tambĂ©m. Isso vale para tudo, seja na polĂ­tica, na educação, na mĂșsica, na questĂŁo ambiental. Enquanto o brasileiro continuar agregando valor a coisas que nĂŁo merecem nenhum, as coisas nĂŁo vĂŁo mudar. Enquanto as nossas jovens aceitarem ser tratadas como objetos pela mĂ­dia em geral, e acharem que ser a “novinha ostentação” Ă© sinĂŽnimo de admiração, nada muda. É preciso conscientização. Nossas jovens merecem respeito.
Por Elaine Silva blog Jonata Daniel
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